quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

CARTA AO MEU, PAPAI NOEL




                                                                                       Por Zé Alípio Martins  
Querido Papai Noel.
Quanto tempo que o Senhor não aparece!
Quanto tempo que não ouço aquela sua risada incomum!
Brincando... Lá se vão 20 anos!
Sei que também deve sentir, como eu, uma saudade de apertar o peito e fazer o lagrimar ensopar os óculos.
Lembro-me, que nessa época de Natal, costumava se virar de todo jeito e encontrar uma maneira de nos presentear.
Não devia ser fácil. Éramos sete. Meninas e meninos...
“Uma roupinha diferente pras meninas que estavam ficando mocinhas”!
“Um sapato novo pro mais velho, pois seu pé cresceu bastante”!
“Um boneco chamado Paulinho pra mais nova”!
Um fusca verde pra mim!
E uma bola pro João...
Era uma luta!
Mainha corria pra máquina de costura e delegava a casa às meninas.
Era “um tal”de mudar as coisas de lugar...E logo o chão estava vermelhinho e deslizando de “Cera Parquetina”!
Dessa vez... Ninguém reclamava dos afazeres.
Era Natal e seu espírito já prenunciava tais atitudes.
“Na “Radiola Stéreo Philips”, era tempo de ouvir o velho compacto duplo “A Harpa Celestial”, as mesmas quatro canções do ano passado.
No lado “A”... Só Natalinas: Jingle - Bells e Natal das crianças.
No lado “B”... Boas Festas e Feliz Ano Novo.
Aquelas canções nos deixavam solícitos e em harmonia.
Meu querido Papai Noel!
Lembro-me demais da sua luta e do seu jeito peculiar em nos atender.
Como assistindo ao filme “ O Nascimento de Jesus”, acompanhei a sua mudança física. A velhice ia trazendo-lhe marcas no rosto, nas mãos e cabelos.
Ao perceber que tantos fios brancos “Surgiam de repente”! Quis disfarçá-los pintando-os...Lembro bem!
-Ficou esquisito. Disse minha mãe.
Fique tranqüilo! Pois, todo Papai Noel tem cabelo e barba brancos.
Logo você soube entender.
Por sua pouca vaidade... Por sua maneira simples de viver.
Sempre quis demonstrar que era forte e saudável. Corado e disposto.
Ninguém imaginava que alguma doença estivesse te acompanhando!
Calada e silenciosa!
Até deixá-lo fraco, triste e enfermo.
Poucos dias pro Natal e você partiu...
Era 14 de dezembro.
Casas e ruas enfeitadas se mostravam alheias às nossas tristezas.
Passamos o “Primeiro Natal”, sem o “Nosso Papai Noel”.
Não houve cartas, árvores, presentes e risadas.
A nossa casa ficou vazia e opaca sem a vermelhidão da Parquetina.
Viajamos todos... Pra qualquer canto... Sofremos muito.
Naquele ano ao tentar armar o presépio, coisa que nós dois fazíamos todos os anos juntos, não consegui.
Não consegui nem desenrolar os figurantes daquele papel de jornal que cuidadosamente os enrolou.
Naquele ano não nos alegramos em iluminar a goiabeira do sítio com a gambiarra de lâmpadas coloridas que o senhor confeccionou.
Aquele ano Pai, não teve Noel e nem Natal!
Sua calça e sua camisa, de ir à “Missa do Galo”, ficaram por vários anos guardadas.
Queríamos o nosso Natal e já não o podíamos ter.
Queríamos aquele “simples Natal”, onde o Senhor puxava a oração pra ceia.
E ante a pressa de dormir, na certeza dos presentes... Gostava de ouvi as velhas histórias do menino criado no Irará por sua avó Ana, montado num cavalo de pau “Com crina e tudo”, feito por seu tio João da Rosonha.
Do “Papai Noel de chocolate”, único presente que seu pai lhe deu.
Da sua bicicleta decorada com uma cara de gato do mato...
Da “ Touca de Crochê e sua fama de comelão!
   Do seu baralho guardado na caixinha de perfume... Tá comigo até hoje!
   Depois Íamos dormir pra cedo acordar e abrir os presentes.
Um fusca de plástico verde...  Uma bola “Dente de leite”... Um peão de madeira bem torneado...  Carretel de linha para “Arraia” de marca “Três corações”... Um boneco chamado Paulinho... Um calção com bolso, feito por minha mãe, pra botar as bolas de gudes... Um vestido “diferente” pras meninas...

   E era assim meu “Bom Velhinho”!
   Na certeza de um novo encontro.

    FELIZ NATAL!
    
    Que estejas com Deus e com todos os anjos.