sábado, 7 de maio de 2011


MÃE É MÚSICA
                                                      Por Zé Alípio Martins

Quando comecei a estudar música, meu professor – professor Raimundo, trompetista, regente da Banda Marcial e líder da Banda de Baile que animava as festas escolares – me fez decorar um conceito que não esqueci jamais. E pasmem! Estou me referindo, aos idos de 1970.
No meu caderno simples, reservado às aulas de música, que guardo até hoje, anotei pensando que, um dia, iria esquecer: 
Música é a arte de manifestar os diversos afetos de nossa alma mediante ao som e divide-se em três partes: Melodia, Harmonia e Ritmo.
Ainda que, o sentimento bucólico e o ar de saudosismo preencham meu peito sempre que ouço essa definição de música... E, mesmo sabendo que muitos mestres a utilizam ainda hoje!
Pra mim, nunca foi satisfatória! Penso em música de outra forma! De outro jeito... 
Outro dia comento sobre isso!
Achei um destino mais apropriado para a “velha definição”. Penso que se encaixe melhor, a soma dos predicados que deveríamos sempre postar às nossas Mães, Mamães, Mainhas, Mãezinhas...
Começando com:
Ser mãe é poder manifestar os diversos afetos da nossa alma mediante ao som...
E ouça... 
Dos grunhidos de bebê as primeiras “mal entoadas” palavras e elas (as mães) com seus ouvidos absolutos em percepção Beethoviana, sempre acertam.
- Já acordou meu bebê?
- Ah! Tá com fome? 
- Tá com dor? 
- Tá de xixi...
Essa condição a muito serviria no entendimento às obras dos “Grandes Compositores” e das “Grandes Orquestras”.


Mãe é música em melodia. 
A nossa primeira lição musical vem do acalanto em doces canções de ninar nos momentos de inquietação, depois de mamar, na hora de arrotar...

Mãe é música em harmonia.
Na seleção das texturas a compor os nossos cardápios diários. Nas atitudes de compreensão em doces fragmentos. Na nossa teima, ásperos ruídos de  “Quieta menino”!

Mãe é música em ritmo.
Por vezes, frenéticos, intensos, em rapidíssimos, uns prestíssimos.
Por tantas outras vezes em Andamentos lentos, suaves e cheios de carinhos. Uns Adagios.
Facilmente mudam do compasso 2/4, quando preocupadas e aflitas pela febre 39° C , compassos compostos 6/8 ou 12/16.

Mãe é uma partitura completa e complexa.
Começa a ser composta desde que somos menino...
Da gravidez ao nascimento, são várias etapas, até as apresentações noturnas. 
Recitais intermináveis em solos ou em não raros casos interpretados em duos, trios e até quartetos...

Vem chegando o dia das mães e poucos se lembram desse ou d'aquele fato!Vez ou d’aquela vez.
Não é do meu feitio mas, esse ano, passarei longe dela.
Gosto mesmo é de passar com ela! Pegar meu violão e tocar pra ela. Cantar aquelas “musiquinhas” que me ensinou, quando foi a minha professora estagiária na segunda série primária no Complexo Escolar Anfilófio de Carvalho. E, como toda estagiária da época, por entre “flanelógrafos” e apetrechos, muitas canções.
Ao chegarmos a escola, nos dirigíamos ao pátio e, em posição de sentido, cantávamos o Hino Nacional para hasteamento da Bandeira, íamos pra sala cantando rotineiras canções.
Sei muitas delas até hoje!Era música pra tudo!
Pro dia, pro sol, pra chuva, pras datas comemorativas, cívicas, merenda e até da diretora ( professora Elza)!

Mãe é uma composição singular. Uma sinfonia especial.
Mesmo quando singela melodia... Consegue esboçar, em diferentes intensidades e articulação, uma dinâmica de piano ao forte, com sutileza e invejável resistência.
Seu tema é facilmente identificado... São os mesmos executados há séculos por suas avós, bisavós e tataravós.
Seus gestos propõem um encadeamento harmônico rico em detalhes e ornamentos. Concluídos em cadências perfeitas.
Nos seus motivos ou Lait Motiv , podemos perceber peculiaridade inerente a elas. Mesmo quando se apresentam em diferentes formas e estilos.
Quando esbeltas ou rechonchudas, conseguem  os mesmos coloridos de forma intermitente, delineados em movimentos rápidos e lentos.

Mãe é minha música predileta
 
Consigo ouvi-la até dormindo!Parece que sintonizei um dial ficto.
Está sempre na moda e nas paradas de sucesso.
E nesse embalo passam-se os anos...
Às vezes custamos a entender... Aproveitar... Curtir... Relevar...
Com o tempo aparecem os problemas interpretativos... Idade, velhice, saúde, descompasso, ansiedade, esquecimento, pressão, depressão,surdez, lembranças, frustrações, épocas, fases, frases, períodos.
E logo, como em toda “peça” que chega ao final começamos ao ouvir os seus últimos e singelos acordes. Cadência conclusiva.
Apareçe um desejo extremo, vindo do fundo do peito e pedimos a Deus que preencha calmamente os seus últimos pentagramas. 
Acrescente ritardando. Allargando! Fermata! Algo que retarde a seu fim.
Que, essa Sinfonia perdure mais um pouco! Se prolongue em extensos desenvolvimentos e exposições temáticas!  Que não haja um súbito desfecho.
Procuramos ouvi-la calmamente e os seus sons que em inaudíveis pianíssimos nos tornam surdos e incapazes.
A cortina se fecha a mais um grande Concerto.
Ninguém aplaude! Todos compreendem:

                  “Toda grande Opus, tem seu Gran Finale”.